sociedade

Democracia, guerra e voto


O historiador Fernando Braudel dizia que não é observando as espumas da superfície que se conhece a potência do rio caudaloso que às produz de forma tão espetacular. Essa é uma metáfora que o autor usa para demonstrar que não é tomando os acontecimentos pela sua aparência superficial que podemos compreender as forças ocultas que os promovem, suas reais e essenciais determinações e razões de ser.

Observados à sua superficialidade, os eventos políticos no Brasil desde os últimos anos nos aparecem como um conjunto de eventos fortuitos e espontâneos, ocasionais e necessários a uma depuração moral da sociedade, que combinados fortalecem o poder democrático desta sociedade, dando estabilidade social e econômica às suas instituições e garantindo uma aparente normalidade ao seu funcionamento.

Apenas aparência! Em realidade o conjunto de circunstâncias em que estamos imersos é o que o jornalista brasileiro Pepe Escobar chama da guerra híbrida. Nela, não há tiros, tanques ou soldados propriamente ditos. É um tipo de guerra não convencional que golpeia lentamente e a longo prazo; suave, não dura, não militar, sem intervenções expressas e com manipulação significativa dos meios de comunicação de massa, controle político, financeiro e intimamente alinhada com o sistema judiciário do país. Sofisticada mesmo. Algo sutil, porém muito eficiente!

Nesta sociedade em guerra, em vez da farda, a toga como timão de um amplo processo pensado de fora para dentro, que nos aparece, inversamente, com ares de normalidade. Caso o resultado das eleições seja diferente daquele que os timoneiros esperam não hesitarão em impor outra vez sua agenda com apoio da mídia hegemônica, com Supremo, com tudo!

Vivemos tempos sombrios e obscuros, incertos e temerários, esperando que nossos votos borbulhantes que formam muita espuma, tenham a força de agir sobre a caudalosa e convulsa realidade brasileira. Neste cenário de guerra, o voto é apenas um estilingue diante do poder bélico gigantesco, discreto e devastador da cidadania que parecemos ter nesta aparente democracia brasileira.

Foto: Pixabay

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